À dois, no início podemos redefinir por UM, pois a vontade de ficarem juntos é latente nesta primeira fase, ela ultrapassa qualquer fórmula matemática que a tente explicar, onde vemos um, vemos também o outro. Os amigos e parentes não cabem mais em suas vidas, pois só há um, um casal, uma vontade, um amor.
À medida que o tempo vai passando, quando os corpos já estão descobertos e quando a problemática do cotidiano aparece, os dois buscam a individualidade, porque a fase da fissura já passou.
Surge o comum, o igual, o vazio, surgem os desencontros, os desinteresses, as decepções, porque somos humanos em busca de sempre novidades, porque a vida já não é suficiente no cotidiano.
À dois passa a ser à muitos, já não se bastam um ao outro e precisam de complementos, de cenas de ciúmes apimentando e despertando um para o outro e mostrando que aquele ser é o seu objeto de desejo, ainda, mas que não o é para os outros.
Vem então o casamento porque o amor provou que é capaz de segurar a barra de todas as dificuldades, escolhem dividir e somar e multiplicar.
Vem as tarefas, as domésticas, os compromissos extras, os almoços com a família e em família, as diferenças são apresentadas, alguns desgostos, uns desacordos, mas em nome da instituição perdoa-se e esquece-se todas as coisas.
Vem os filhos e estes roubam os momentos à dois, por muitos e muitos dias e anos. Mas são eles a representação da união dos dois, que se intitularam amar-se para sempre até que a morte os separasse.
Então a mãe que tem em sua constituição felina, algo que não se explica em um texto, vai se fechando para o mundo e estica os seus braços protegendo sua cria de todas as intempéries, pois está exacerbado nela o extinto e a obrigação da perpetuação da espécie. O macho da relação passa a ser uma ameaça à essa proteção e involuntariamente, a mãe afasta a cria do pai e concomitantemente vai junto a ela e se protegendo, ambos dão vazão a um código que só pertence a eles.
Os filhos crescem e não precisa dizer que seus afins são procurados como a um desejo desenfreado, macho e fêmea crescidos se ajuntam às suas tribos e se enlaçam, assim como o fizeram os seus provedores de vida, os pais. Eles se vão, nos mesmos caminhos dos pais, assim como manda a tradição da espécie, juntam-se com o outro, o par e vão viver suas vidas, à dois, a três ou mais, porque a espécie se perpetua e porque não, evolui também.
“Levarei uma alma salpicada de impressões, de leveza por ter participado deste mundo chamado mundo e levarei as lições, as muitas lições que aprendi.” Por – Ana Cristina da Costa
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